CRISTIANE NOGUEIRA
Desde 2002, através de uma luta sem trégua e incessante, em prol do meio ambiente destruído tão covardemente pelo homem, a ONG Centro de preservação da Natureza Projeto Canto Vivo, localizado no Mosqueiro, distante 25 km de Aracaju e idealizada pelo casal Cristiane Nogueira e Albino Silva da Fonseca, trabalha com reflorestamento, produção e doação de mudas da Mata Atlântica. Um projeto inovador, que não tem fronteiras nem limites para salvar o meio ambiente.
De início, a ong cuidaria de animais machucados, mas com o passar do tempo, percebeu-se a ausência de áreas preservadas em Sergipe Foi a partir daquele momento que nasceu a idéia do reflorestamento. Juntos, cuidando do meio ambiente, o casal tem sido um exemplo a ser seguido e, mostra em cada ação que cada um deve fazer a sua parte por um mundo melhor, repleto de verde.
Nesta entrevista exclusiva à Coluna by Valldy de Cruz, Cristiane abre o coração com exemplar sinceridade e fala sem máscaras nem rodeios da situação da instituição. Contou as dificuldades enfrentadas para manter a ONG; pontuou os projetos em andamento; disse por que não aceita parcerias com políticos e, falou do projeto de arborização com as marisqueiras em Nossa Senhora do Socorro, do reflorestamento com os jovens do Prójovem em Campo do Brito e admitiu emocionada que se sente solitária juntamente com o marido na luta pela preservação do meio ambiente.
Mulher simples na sua essência, porém, nobre em seus gestos e ações, Cristiane vira uma fera na hora de defender a natureza.
De onde vem esse amor pelo meio ambiente?
(Sorridente e olhos brilhantes) Bom... Meu amor pelo meio ambiente vem desde que nasci. Eu nasci e cresci em comunidade rural. Cresci junto com animais, com a natureza, plantando. Eu plantava milho, feijão, essas coisas. Então fui crescendo, mas mesmo com esse convívio não sabia que tinha esse amor todo pelo meio ambiente. Só depois que eu sai da área rural e vim para a capital é que eu me descobri, me redescobri e percebi que gostava realmente do meio ambiente. E hoje esse trabalho que faço, faço com muito prazer.
E como foi essa redescoberta na capital?
(Movimenta-se) Não foi nada fácil, porque quando você sai de uma cidade pequena, de área rural, como Penedo, em Alagoas, de onde vim há 16 anos, você quer tudo. Vê tudo muito grandioso, com shoppings, prédios, tudo o que você vê na televisão, nas novelas. Você sonha pra si tudo aquilo, que tanto fascina. Então era isso o que eu queria aqui, em Aracaju. E quando eu vi que não era bem assim, eu fiquei assim, meio que perdida, entre o que eu sempre sonhei. Em ser uma... sei lá... uma médica, uma advogada e, as minhas origens. Fiquei meio perdida nisso. E foi aí que Albino, meu marido e idealizador da ong entrou na jogada e a gente começou a criar animais, pássaros. Foi ele quem teve essa grande idéia de cuidar do meio ambiente, de cuidar do que estava faltando, que era o tratamento dos animais silvestes que chegavam até nós.
Quando e como nasceu o Projeto Canto Vivo?
Então, quando começamos a criar os animais para reprodução, tipo periquito, a gente ia até o comércio de animais e víamos o sofrimento dos bichinhos maltratados. A gente comprava os animais e tratava deles para a reprodução, a fim de que suas espécies não fossem extintas. E quando saía os filhotes, a gente tinha vontade de soltar, mas para isso era preciso que existissem áreas onde eles pudessem se readaptar. Eles tinham que ser readaptados para ficarem soltos. Resolvemos procurar o IBAMA. Foi aí que Albino teve a idéia de criar a ong. Tanto é que o nome da ong é “Canto Vivo”. Canto Vivo de cantar. Cuidar de animais silvestres e pássaros, oriundos do mercado negro e que chegavam até nós totalmente debilitados, era nosso intuito quando fundamos a ong.
Como o Projeto Canto Vivo é mantido?
O Canto Vivo é mantido com nossos salários. Albino é funcionário público e eu sou restauradora de antiguidades. São com essas rendas que mantemos a ong. Mas é muito complicado. Não aceitamos propostas de políticos. Temos medo de nos envolvermos e a nossa ong ficar maculada, como muitas que vimos por aí, envolvidas em escândalos de lavagem de dinheiro. Ong tem sempre essa fama. Os jornais nos mostram a todo instante situações como essas.
“Preservar o meio ambiente é um gesto de amor, com a humanidade e o planeta”
Quando sentiram a necessidade da fundação de uma ong ambientalista em Sergipe?
Quando procuramos o IBAMA, vimos que ele também não tinha muita noção do que fazer pra nos ajudar a reintroduzir esses animais vítimas da maldade humana em seu habitat. A bióloga do IBAMA, Gláucia, nos aconselhou a montar uma ong, porque assim teríamos mecanismos legais pra procurar ajuda do ministério público, federal ou estadual, a fim de angariar fundos para que pudéssemos fazer essa soltar os animais em seu habitat. Mas não foi muito fácil lidar com animais. É complicado, porque me perguntava: vamos soltar onde?
Sergipe não tem áreas preservadas. Sergipe não tem grandes áreas de mata atlântica. Os animais, como iam sobreviver sem mata, sem árvores, sem alimentos? Então não adiantava, a gente estava fazendo um serviço assim, como meu marido fala, serviço de português. Sabe? Fazer a mesma coisa várias vezes. Ele que fala assim. Eu não sei como é. Foi a partir dali que começamos a produzir mudas de mata atlântica. No início, nem ele nem eu sabíamos o que era ou não mata atlântica, fauna, flora brasileira. Foi complicado.
Sentiram dificuldades durante o período de implantação da ong? Como foi esse processo?
Muitas dificuldades. Nossa! Primeiro porque tínhamos que procurar contadores para nos orientar, advogados, dinheiro pra gastar com documentação. Tudo isso é um processo. Reunir pessoas que quisessem participar desse gesto tão humano e de solidariedade com a natureza. Porque para se fazer uma ong, não é só o desejo de uma ou duas pessoas que é levado em consideração, como era o nosso caso. Temos que ter muitas pessoas com o mesmo objetivo. E era complicado encontrar pessoas com o mesmo pensamento que eu e Albino. Começamos a procurar nossos amigos e convencê-los quanto à importância da fundação da ong.
Quais as áreas de atuação do Projeto Canto Vivo?
Ela atua onde a natureza pede socorro, onde necessita da nossa ação. Nas divisas de Alagoas, Sergipe e Bahia, tem duas cidades chamadas Rio Real e Paripiranga, e esses dois municípios nos procuram para doação de mudas. Não costumamos doar para áreas particulares, donos de fazendas, como são os casos das cidades citadas. Mas em Rio Real tem fazendeiros que cuidam das nascentes. Então, terão nosso total apoio na recuperação daquelas regiões destruídas. A gente faz uma troca. Eles nos trazem sementes e nós lhes passamos as mudas das árvores.
A ong não atua só em Sergipe. Não costumamos nos omitir. Quem quer que seja que nos procure, sempre vamos ajudar.
Como acontece o processo de apoio a projetos?
Nós costumamos apoiar projetos de educação ambiental, principalmente em escolas. Porque o nosso objetivo é tentar conscientizar crianças e jovens. Os adultos já têm uma mente formada, do que já quer da vida, já tem os seus próprios pensamentos. Mas a criança em desenvolvimento é a que tem que ser trabalhada, despertar a conscientização nelas. Então costumamos apoiar projetos de escolas, de interior. Tem um projeto em Maruim em que a gente vai levar muitas mudas para fazermos plantação lá.
Quais os benefícios diretos para as pessoas que participam desses projetos?
O resultado do beneficio é 100%, porque se você trabalha com a criança em desenvolvimento, a chance de quando ela for um adulto, um adulto consciente, um adulto responsável pela sua sociedade, pelo meio ambiente, é garantido. Você faz algo que vai ter retorno. Essa crianca será um adulto com uma visão totalmente diferente dos adultos de hoje.
E indiretos para a sociedade?
Essa criança que ouve nossas palestras e ajuda a plantar uma muda, ela vai chegar em casa e vai contar aos pais o que fez. Ela vai manifestar para os pais o que eles não tiveram na infância. E é dessa consciência que o meio ambiente precisa. Esse é o retorno indireto. O nosso foco é a criança e adolescente. Eles vão propagar a nossa missão. Já dos empresários e do poder público, infelizmente não conseguimos despertá-los quanto à importância de preservar e cuidar do meio ambiente, destruído tão covardemente pelo homem.
Quais as principais ações do Projeto Canto Vivo?
(Fica pensativa... Começa a falar) São muitas.
Cite algumas, por exemplo.
Nós estamos fazendo a recuperação de uma serra importante pra o ecoturismo e para o meio ambiente aqui em Sergipe. É a Serra São José, na cidade de Campo do Brito. Há 5 anos essa serra foi completamente queimada. E até hoje não conseguiu se recuperar totalmente, sozinha. Nós fomos contatados pelo Pró-jovem Cidadão da cidade. Fomos procurados e há 2 anos estamos fazendo esse projeto, na recuperação da área.
A recuperação da serra é a ação mais importante do Projeto Canto Viva. Não quero desmerecer os demais, em especial das escolas. Mas o vejo como o mais importante porque é uma área de preservação permanente. Lá há áreas de nascentes. E água é fundamental para a nossa sobrevivência. Com esse projeto não ajudamos só a serra São José, mas o meio ambiente, a população daquela região, a Mata Atlântica.
E juntamente com esse projeto há um trabalho de conscientização dos jovens assistidos pelo programa do governo federal. Com as orientações que recebem, podem fazer um projeto de ecoturismo com as árvores lá plantadas, daqui a alguns anos. Elas vão dar frutos e sementes para que se trabalhe com o artesanato, com doces, com biojóias e assim atrair o turismo para o município.
E esses adolescentes ficando lá, não precisam vir à capital, porque tem trabalho lá. O turista vai até lá, gastar o dinheiro na cidade.
Então, essa é a de maior visibilidade?
(Sorridente) É sim. Esse é o mais grandioso projeto que a nossa ong já fez até hoje.
Mas há outros projetos, como a doação de mudas que fazemos anualmente no centro de Aracaju. Todos os anos doamos mil mudas. E lamentavelmente: delas, apenas 5% conseguem chegar à idade adulta.
Existem parcerias com órgãos públicos?
Não nenhuma. Ninguém quer ajudar.
Nos fale sobre a parceria com o jornal Cinform, de distribuir sementes para seus leitores.
(Empolgada) Pois é... Tem sido uma parceria muito boa, muito gratificante e prazerosa. Nós sempre quisemos despertar nas pessoas o interesse em plantar. E nos perguntávamos como fazer isso em grande escala? Foi aí que pensamos na campanha com as sementes, em doar. Mas aí outra questão surgiu: quem vai lembrar de plantar aquela semente, já que não dispomos de um panfleto para orientá-los?Só doar a semente, ficaria muito vago.
Foi a partir dessas indagações que procuramos o Cinform e firmamos parceria. Quando lançamos a proposta fomos indagados quanto ao intuito da campanha. Não pestanejamos e dissemos que o intuito era despertar nas pessoas o desejo pelo verde. O desejo de ajudar o meio ambiente, porque tem muita gente que quer ajudar, mas não sabe como. Acha que é muito difícil colocar a mão na terra ou fazer algo desse tipo. Foi aí que falamos que doaríamos a semente e, caso a pessoa não quisesse plantar no quintal ou em outro lugar, podia fazer bonsai. São sementes de fácil adaptação e pequeno porte. Mas não imaginávamos que iria ser tantas sementes, que a campanha ia ser um enorme sucesso. Trabalhamos feito loucos porque para colocar 23 mil sementes em embalagens, não é fácil. Foi muito bom, um desafio.
Mas o trabalho valeu a pena?
(Emocionada) Muito. Porque muitas pessoas que receberam essas sementes tiveram o cuidado de plantar. Temos recebido vários telefonemas e e-mails, dizendo Cristiane, eu plantei. Outras pessoas tiram dúvidas sobre a forma correta de plantar. É gratificante o interesse das pessoas. E achamos que despertamos em muita gente o desejo de plantar uma árvore.
“Essas pessoas estão cegas. Não vêem a noção do perigo ao nosso redor, devido seu descuido, seu desleixo com o meio ambiente”
O que você espera com essa campanha?
Que as pessoas cuidem mais do seu, do meu, do nosso planeta. Nós só temos esse planeta, ele é único e merece ser tratado com carinho. É preciso manter o equilíbrio entre meio ambiente e progresso. Essa é a chave e solução de muitos problemas que nós vivemos hoje.
Esperamos que essa campanha tenha despertado o desejo de se manter o equilíbrio do planeta e cuidar para proteger a sobrevivência dos humanos, das próximas gerações.
E Sobre o convite para composição do comitê com a UNIMED Sergipe?
(Um misto de alegria e esperança surgem à sua face) Com a UNIMED, esperamos poder firmar uma parceria, porque ela já tem um programa de sustentabilidade. Achamos que podemos ajudá-los e eles também podem nos ajudar, principalmente na efetivação de campanhas em prol do meio ambiente, já que temos dificuldades em trabalharmos com logística.
Esperamos que essa parceria com a Unimed se concretize, para juntos podermos fazer muitas coisas boas para essa meninada que vai levar adiante nossos sonhos.
Estamos muito confiantes. Precisamos de muitas parcerias. Não temos estrutura. Por exemplo, no caso da serra São José, nós só podemos fazer a plantação das árvores uma vez por ano. Se tivéssemos uma parceria como a Unimed, que tem transporte e uma excelente estrutura, tem como comprar o adubo, trabalhar com logística, tem como reunir os alunos de Campo do Brito e os voluntários para fazermos o plantio das árvores duas ou três vezes por ano.
Como não possuímos estrutura, só podemos ir à serra uma vez por ano. E desde a fundação da ong, em 2002 até o presente momento, só tive ajuda de uma pessoa em Sergipe. Esse sim acreditou no meu sonho e, na medida do possível, me ajuda, que é Padre José Carvalho de Souza. Um homem fantástico, um amigo da natureza. E sempre que eu peço, que preciso padre Carvalho atende ao meu pedido de socorro. Quando necessito de um ônibus para levar mudas até a serra São José, de ajuda para comprar uma carrada de terra preta, ele está sempre disponível. Foi o único que me ajudou até hoje.
Então, o que falta a ONG é estrutura?
(Ar de tristeza) Sim. Não temos uma boa estrutura. Por exemplo, não temos como fazer estufas. Fazemos estufas improvisadas, debaixo de árvores. Porque a planta, quando você semeia ela precisa de sombra. Se você a coloca no sol, aquela semente não germina. E como não temos estrutura nem capital para investir, usamos árvores mesmo, palhas de coqueiro. É assim que vamos mantendo a produção.
Essa falta de estrutura prejudica a produção de mudas?
Sim. Temos muitas dificuldades. Dificuldade na produção das mudas, para pagar a conta de água, que é um valor alto. Temos dificuldades para mantermos um site. Tudo isso requer dinheiro e a gente tem outras prioridades. Mas as mudas estamos produzindo. Gostaríamos de ter condições para produzirmos 30 mil mudas por ano, mas infelizmente só dá para produzir 10. Mas fazemos o que podemos, o que está ao nosso alcance.
De que forma acontece a produção e doação das mudas?
Após colhermos as sementes, bem próximo daqui, fazemos a mistura do adubo com a terra preta e enchemos saquinhos. Todo o processo passa por nós. Somos nós quem faz. É assim até o momento de sair para o plantio definitivo. Escolhemos as sementes, as mudas que vão para arborização das cidades, das praças, das ruas e avenidas, as que vão para recuperar uma mata auxiliar. Levamos também em consideração a questão do tamanho da árvore. Para recuperação de uma mata ciliar ela não pode ser muito grande, porque ela tem que se adaptar ao solo e para uma boa adaptação precisa está em crescimento. Já quando são para arborização de praças, ruas ou avenidas elas tem que ser de um tamanho maior.
“Sergipe não tem mais o que desmatar. Se continuarmos assim, as conseqüências serão irreversíveis”
Onde as sementes são colhidas?
Como não dispomos de capital financeiro para sairmos pelo interior buscando sementes, temos amigos que sabem do nosso trabalho, de conscientização ambiental e voluntariado, e nos enviam diversas espécies de sementes. Na maioria das vezes, nem sabemos o nome da semente que nos foi enviado. Plantamos e só depois descobrimos o nome daquela árvore. É naquele momento que descobrimos se é mata auxiliar, mata atlântica, restinga ou caatinga. Mas, geralmente, coletamos aqui mesmo. Essa área do Mosqueio era tudo de Mata Atlântica. Hoje só restam alguns bolsões de restos da mata. A construção imobiliária cresceu muito, desordenadamente. Tudo está sendo transformado em condomínios. Conhecemos algumas árvores que ainda resistem a essa monstruosidade com a natureza, e vamos lá e colhemos as sementes. As sementes de aroeira, por exemplo, conseguimos nesse terreno ao lado.
E o que é mata ciliar?
São árvores que nascem às margens dos rios, que agüentam muita água. Nós fazemos a recuperação da mata ciliar para segurarbarrancos, devido a erosão dos rios, para a terra daquelas áreas não ceder com os desastres causados pela ação desastrosa do homem.
Nos fale sobre o trabalho com as garrafas PET.
Um ambientalista não tem que se preocupar só com o verde, em arborizar, em plantar. Ele precisa se preocupar com várias questões ambientais, como o caso do lixo. Foi o questionamento do que fazer com o lixo que nos despertou, observando a quantidade imensa de plástico jogado no lixo, sem serventia, sem reciclagem. Começamos a pesquisar sobre garrafas PET, que estão sempre jogadas nas ruas, principalmente em bairros periféricos. Naquele momento pensamos em fazer trabalhos comunitários em comunidades carentes.
Pesquisamos na internet sobre minihortas com garrafas PET e começamos a agir. Na confecção das minihortas usamos duas garrafas, cortamos, alinhavamos para dar um sustento, plantamos dois tipos de condimento, que é a cebolinha e o coentro.
Queremos levar esse projeto adiante. Estamos só em processo de experimentação. Mas queremos levar adiante, porque tirando essas garrafas PET do lixão, já melhora muito a vida de todos nós. Uma garrafa demora entre 100 e 200 anos pra se decompor na natureza. Acredito que é obrigação de qualquer um e principalmente de quem usa garrafa PET fazer um trabalho de reciclagem. Estamos fazendo nossa parte.
E sobre o projeto de arborização com as marisqueiras de Nossa Senhora do Socorro?
Essa idéia surgiu de um amigo que mora lá. Ele falou que precisávamos ajudar as mulheres de um loteamento totalmente sem arborização. Elas dependem muito do rio, do mangue que fica ali próximo. Esse loteamento não tem infra-estrutura, não tem saneamento. Vamos fazer a arborização daquela área. Iremos Inserir também na vida delas o uso das ervas medicinais. Muitas delas não têm nem dinheiro para comprar um remédio quando alguém da família está doente. É aí que a erva se torna de grande utilidade, sendo utilizada para curar uma gripe, por exemplo. Além disso, vamos trabalhar com elas a produção das minihortas, para que tenham o coentro, a cebolinha para colocar no feijão, na sua carne. Às vezes, elas não têm nem o alho pra colocar na comida, não tem dinheiro pra comprá-lo.
“Voltar seu olhar para o meio ambiente é um gesto sublime de amor com todos que habitam nosso planeta”
No seu ponto de vista, o sergipano cuida do meio ambiente?
Não. Isso é geral. Não é só o sergipano que tem esse descaso com nosso planeta. Mas é isso que precisamos mudar. Não somos os únicos. Temos certeza que muitas outras pessoas estão tentando mudar a mente do sergipano e dos brasileiros em geral, conscientizando todos da importância de cuidar mais dos seus recursos naturais. Nós nos preocupamos muito com as questões ambientais, em dar o exemplo para que possa ser seguido. É esse o nosso intuito: que se mexam, que façam algo, que façam alguma coisa, que ajudem ao próximo, ajudem o meio ambiente, ajudem a equilibrá-lo.
Como está a situação do desmatamento no nosso Estado?
Sergipe não tem mais o que desmatar. É um estado que não tem áreas preservadas. Os animais estão desaparecendo. Os animais da fauna silvestre daqui do Estado estão sendo extintos. Espécies importantes daqui da flora, da mata atlântica, estão sendo abolidos. Se continuarmos assim, se o poder público não tomar uma atitude, rápida e precisa, se não fizer campanhas em massa para que acabe com esse desmatamento, com essa destruição monstruosa, as conseqüências serão irreversíveis.
Em Aracaju, a expansão imobiliária vem destruindo nossas matas. Ninguém faz nada. Há um plano diretor que não impede as ações das construtoras, então não se pode fazer nada. Os bolsões de mata atlântica que existem aqui, daqui a 10 ou 20 anos não vão existir mais.
Já quanto à situação do interior, onde a destruição as nossas matas tem sido desordenadas, ainda há tempo de se fazer algo,um trabalho de recuperação em áreas que já foram desmatadas, principalmente em grandes fazendas que não respeitam o limite de mata ciliar. Mas o IBAMA também não possui recursos para fazer uma fiscalização mais precisa, com mais freqüência.
Então, faltam políticas públicas dos governos para sanar esse problema?
Faltam, não temos dúvidas. Não queremos criticar ninguém. Cada um faz o que pode e o que quer. Estamos fazendo o que podemos, a nossa parte, da melhor forma possível.
Quais são as mudas que vocês dispõem na ONG?
São muitas. Mais de 100 espécies. De umbaúba, cajueiro, ingazeiro, sucumbira. São inúmeras.
Vocês se sentem solitários na luta pela preservação do meio ambiente?
(Visivelmente emocionada) Sim. Acreditamos que nos sentimos. É uma luta solitária. Não há muitos parceiros. Porque muitas pessoas não estão nem aí para as causas ambientalistas. Mas estamos conscientes do que fazemos. E não queremos parar nunca.
Pode-se dizer que preservar o meio ambiente é um gesto de amor com nosso planeta?
Sim, sem dúvida. De amor e de respeito, com o planeta e com o ser humano. Mas não é fácil fazer o bem. A natureza tem vida, ela respira e sofre as conseqüências do homem. Voltar seu olhar para o meio ambiente é um gesto sublime de amor com todos que habitam nosso planeta. As pessoas só querem saber do hoje, não se importam com o amanhã.
Quem quiser adotar uma árvore como faz?
Seria uma ótima idéia adotar uma árvore. Mas as pessoas não querem.
Que mensagem vocês deixam para quem não cuida do meio ambiente?
O que podemos falar para essas pessoas?Que estão cegas, que não vêem a noção do perigo ao nosso redor, devido seu descuido, seu desleixo com o meio ambiente. Mas cada um faz e age da forma que achar melhor. Não podemos chegar para uma pessoa e dizer: o que você faz está errado. Todos sabem do perigo. Não se pode fazer muito por essas pessoas. Vamos continuar fazendo nossa parte e deixar que a vida dê uma lição a elas.
E para quem cuida?
Parabéns! (Risos) E continuem. Não desistam nunca. Por mais que venham críticas e dificuldades. Repetimos todo dia: não vamos desistir.
* O Projeto Canto Vivo necessita de parcerias e voluntários. Contatos (79)9969 2337/projetocantovivo@hotmail.com
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Parabenizo os amigos do projeto canto vivo! Sei da imensa dificuldade de realização da tarefa que assumiram, e só tenho que estimulá-los a seguir em frente. Todos deveriamos seguir esse exemplo, não por modismo, mas por uma consciencia de fazermos parte integrante de todo um cosmo vivo, solidário e interdependente.
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