ENTREVISTA
"No meu governo não terá um ministro que pensa de uma maneira e outro que pensa o contrário"
O candidato José Serra diz, em entrevista exclusiva à ISTOÉ, que o presidente do Banco Central será subordinado ao ministro da Fazenda
Do site da Isto é
“A ordem já está garantida, agora falta ver o progresso.” Este comentário do candidato do PSDB, José Serra, feito ao final da longa entrevista que ele concedeu à ISTOÉ na segunda-feira 14, não se dirigia ao mundo da política. Serra, palmeirense da Mooca, falava sobre a contratação do treinador Luiz Felipe Scolari por seu clube do coração. Ele se diz grato a Felipão. Lembra que no passado, quando era ministro da Saúde e o treinador cumpria sua primeira temporada no Palmeiras, agiu como implacável corneteiro após uma derrota: “Na saída do estádio, eu disse numa rádio que tínhamos perdido porque o técnico não entendia nada de futebol.” No dia seguinte, Felipão afirmou que se sentia autorizado a palpitar sobre a saúde, mas não levou a pendenga adiante. “Ele foi condescendente comigo”, lembra Serra. “Depois que ganhou a Copa, não voltou ao assunto, como poderia ter feito.”
Fazendo uma analogia com o futebol, na política também tem muito “técnico” dando palpite. Alguns apontam que o candidato tucano levou um tranco pesado, dado o avanço da candidata Dilma Rousseff, que arrancou um empate com ele ainda no primeiro tempo dessa peleja eleitoral. Serra, um candidato cheio de táticas, com experiência de quase 50 anos no campo político, sabe que ainda há muito jogo pela frente, e nesta entrevista a editores de ISTOÉ se apresentou com a tranquilidade dos artilheiros. Convencido de que ainda não mostrou toda a sua cancha para a disputa, sugeriu vários dribles para a retranca econômica do câmbio, dos juros e das diferenças entre o BC e a Fazenda. A seguir, publicamos os principais trechos desta entrevista:
ISTOÉ – A economia acaba de registrar um crescimento de 9% no trimestre, a taxa de desemprego tem baixa recorde e 35 milhões de brasileiros foram incorporados à classe média. Sua campanha prega que o Brasil “pode mais”. Em que campos aconteceriam estes avanços?
Serra – Bom, manter uma taxa de crescimento elevada já significa poder mais. Crescimento sustentado ao longo dos anos sempre é objetivo ambicioso, difícil de ser alcançado. Para se obter isto é preciso enfrentar os problemas que vêm por diante, que são basicamente a insuficiência de investimentos na infraestrutura e a área do comércio exterior. Nós estamos com uma evolução negativa nas contas externas, com muitos problemas pelo lado da produção. Há pouco dinamismo das exportações, comparadas às importações, e temos que agir. É necessário ter uma outra política de comércio exterior, muito mais agressiva.
ISTOÉ – O que falta na política externa brasileira?
Serra – Falta maior agressividade econômica. Nossa capacidade de negociação, de abertura de mercados, foi utilizada justamente em áreas que não rendem muito.Temos uma negociação comercial tímida. Precisamos de uma política mais agressiva também pelo lado da defesa comercial, reagindo a práticas ilegais.O Brasil adotou uma abertura comercial na época do Collor no estilo cavalaria antiga: rápida e malfeita. Se descuidou da alfândega e desses mecanismos de proteção nos quais os Estados Unidos são os melhores do mundo.
ISTOÉ – O governo Fernando Henrique não teve tempo de corrigir esta abertura equivocada?
Serra – Tentou, mas não conseguiu. E o governo Lula também tentou e não conseguiu.
ISTOÉ – O sr. não teme ser tachado de protecionista?
Serra – Não. Este seria um julgamento ignorante, pois protecionismo é diferente de defesa comercial contra práticas criminosas.
ISTOÉ – Como se deveria agir?
Serra – Tanto o governo Fernando Henrique quanto este têm uma dificuldade: a falta de centralização da área de comércio exterior. Todo país campeão em comércio internacional tem uma coordenação centralizada e coerente nesta área.
ISTOÉ – O sr. fala em falta de investimentos em infraestrutura. O que privatizaria nesta área?
Serra – Privatizar, nada. Defendo concessões, que são um instrumento crucial para aumentar a taxa de investimento em cima de bens públicos. É diferente de privatizar: você cobra aluguel pela concessão e pode até acabar com ela.
ISTOÉ – O sr. acha que as privatizações do governo Fernando Henrique foram benfeitas?
Serra – Algumas foram. A própria Dilma disse aqui na Istoé que a privatização na área das telecomunicações foi muito positiva. Já com o transporte ferroviário, não é que a privatização não foi benfeita. O setor é difícil e mesmo que continuasse estatal não teria andado.
ISTOÉ – O sr. também tem falado em mudanças no câmbio e nos juros. O que aconteceria em seu governo?
Serra – Há uma combinação ruim de câmbio e juros. O Brasil é o país cuja moeda mais se valorizou no mundo, sem que a conta comercial externa estivesse melhorando. Você pode ter muito ingresso de capital, mas é dinheiro que só vem enquanto o juro estiver alto. Não é um investimento sólido. Nós estamos batendo alguns recordes: temos, disparado, a maior taxa de juros do mundo...
ISTOÉ – Mas há muito tempo, não?
Serra – Não estou dizendo que é neste governo. Olhando para a frente, temos a maior taxa de juros do mundo e a maior carga tributária dos países emergentes. Isto é dado do Fundo Monetário, não invenção maquiavélica de oposição. Nossa taxa de investimento governamental é a penúltima do mundo.
ISTOÉ – No atual governo, o Ministério da Fazenda e o Banco Central têm praticamente o mesmo nível. Como seria no seu governo?
Serra – No meu governo serão instituições absolutamente entrosadas. O ministro da Fazenda, o ministro do Planejamento, o presidente do Banco Central e o secretário do Tesouro vão estar todos afinados. Eu não sou de botar contrapesos. No meu governo não terá um que pensa de uma maneira e outro que pensa de outra maneira. Tem que trabalhar junto.
ISTOÉ – O presidente do Banco Central será subordinado ao ministro da Fazenda?
Serra – Como foi sempre. É o presidente que escolhe. Mas não será alguém que o ministro da Fazenda não queira. Ele vai ter que dar o aval. Na verdade, o presidente do Banco Central só ganhou status de ministro para evitar um processo contra o Meirelles. Lembram? Não foi nenhuma doutrina econômica. Veja, o Fernando Henrique trocou duas vezes o presidente do Banco Central, sem problemas.
ISTOÉ – Como o sr. acha que se deve conduzir a relação entre juros e câmbio?
Serra – É muito difícil, tem que ser levado com muita maestria. Agora, num período de aceleração da inflação, segundo o Banco Central, não é momento de se fazer isto. Já no auge da crise, no final de 2008, certamente era. O Brasil foi o único país do planeta que não baixou os juros. Sem ameaça de inflação, com deflação, esta conjuntura não foi aproveitada. Nove entre dez personalidades do mercado financeiro, em conversas não públicas, diziam que era hora de ter feito isto. Esta coisa de inflação versus estabilidade, em que o monetarista procura estabilidade e o estruturalista prefere a inflação à estabilidade, é tudo bobagem. Nenhum estruturalista jamais disse isto.
ISTOÉ – O sr. é centralizador, como o acusam?
Serra – É engraçado... Eu não sou centralizador no trabalho de governo. As pessoas têm uma liberdade enorme para trabalhar comigo. Eu monitoro, o que é diferente. Acompanho, cobro resultados e, quando o assunto não está andando, eu mergulho. A centralização é ineficiente e eu procuro sempre render naquilo que estou fazendo. Se você ficar centralizando tudo, prejudica os resultados. Sou demasiado racional para viver num esquema dessa natureza.
ISTOÉ – O sr. ainda não tem um vice. Isto não o preocupa?
Serra – Sinceramente, não estou angustiado. Acho que há muitos nomes bons, muitas pessoas que aceitariam e temos ainda duas semanas para decidir.
ISTOÉ – O Aécio Neves era o vice ideal? Foi uma grande perda?
Serra – Não foi perda no sentido de que você só perde o que tem. Para mim, sempre ficou claro, desde o início, que o Aécio não topava ser vice. Ele me disse isto lá no final do ano. Há pouco, teve o pessoal de Minas querendo que o Aécio fosse vice. Não é que eu não quisesse, mas não levantei esta bandeira em respeito a ele. Se alguém me diz que não quer fazer isto, eu vou ficar depois insistindo?
ISTOÉ – Neste quadro de empate técnico na disputa, com que trunfos o sr. conta para voltar à dianteira?
Serra – Se eu tivesse esses trunfos, não contaria numa entrevista. Mas não tem nada milagroso. O Lula não é candidato. A partir de 31 de dezembro ele não será mais presidente e a população vai ter que escolher quem vai continuar levando o Brasil para a frente. O eleitor vai julgar, com base nos apoios que os candidatos têm, com base no que fizeram, no conhecimento, nas propostas para a frente, na credibilidade. Mesmo nas fases em que eu estava liderando, nunca achei que a eleição ia ser moleza. Será uma eleição dura e disputada.
ISTOÉ – Que outros problemas o sr. observa no governo?
Serra – De economia a gente já falou. Há outras questões vitais como a saúde. Existe uma clara percepção da população, não minha, a respeito da deterioração do atendimento da saúde no Brasil. Outro aspecto fundamental é a segurança, que deixou de ser um problema lateral, como sempre foi visto historicamente.
ISTOÉ – A legislação trata a segurança como um problema estadual, não federal. O sr. vai mexer nesta legislação?
Serra – Se for preciso, mexemos na própria Constituição. Mas não creio que seja. O governo federal não pode mais ser só um observador da segurança, dando um dinheirinho aqui, fazendo uma coisinha ali. O crime não tem fronteiras, nem entre países, o que dizer entre Estados. O assunto da fronteira também tem que ter uma solução. Não podemos ter uma fronteira seca deste tamanho praticamente desguarnecida.
ISTOÉ – O sr. está falando em envolver as Forças Armadas?
Serra – Não. Um soldado ou um oficial das Forças Armadas não é preparado para olhar notas fiscais, uma série de documentações, etc. Precisamos de uma força que, embora militarizada como as PMs estaduais, tenha uma preparação específica para isto.
ISTOÉ – Apareceram nos últimos dias notícias sobre dossiês na campanha. O sr. está se sentindo espionado?
Serra – Eu não estava, mas descobriu-se que estamos sendo espionados.
ISTOÉ – O sr. acha que estamos vivendo num Estado policial?
Serra – Não chega a isto. Não quero fazer comparações, vou falar apenas o que eu penso sobre esta questão. Para uma grande parte da esquerda, a democracia era vista como uma coisa tática, menor. Nunca se debruçaram sobre questões como a forma de governo, por exemplo. Para a direita, a democracia era vista apenas como consequência. Curiosamente, os dois lados sempre tiveram um enfoque economicista a este respeito. Os dois casos são insuficientes.
ISTOÉ – Agora o sr. é vítima desses dossiês. Mas seus adversários dizem que o sr. também perseguiria inimigos políticos. Colocam na sua conta, por exemplo, o caso Lunus, que atingiu a Roseana Sarney.
Serra – O que é evidentemente uma estupidez. Falam, mas nunca apareceu o mais remoto indício para começar a ser investigada qualquer coisa a este respeito. Já no dossiê Cayman o pessoal foi preso. O dossiê dos aloprados deu prisão. E agora deu a maior confusão a ponto de mandarem gente embora. Eu não tenho cabeça para este tipo de coisa.
ISTOÉ – O sr. acha que a candidata Dilma é responsável por estes dossiês?
Serra – Como dirigente da campanha, claro. Não estou dizendo que foi ela quem fez a coisa. Mas quando acontece algo assim se deve agir imediatamente. Abominar aquilo ou assumir a responsabilidade e tomar medidas. Mas se passaram dias e não aconteceu nada. Se vocês pegassem o blog da Dilma tinha lá boa parte das ignomínias que estavam nos dossiês. Parece que eram dois dossiês: um que já estava pronto, e que dignatários da campanha da Dilma comentaram com a imprensa, e outro que iria ser preparado. Pois todo este material está posto, a cada dia, no blog da Dilma. Nos últimos dias retiraram.
ISTOÉ – Como seriam, no seu governo, as relações do Brasil com Cuba e Venezuela, por exemplo?
Serra – Normais. Sou ferrenho defensor da autodeterminação. Agora, se tiver chances de fazer pesar uma posição em defesa dos direitos humanos, por exemplo, eu faria. Se houver uma votação num órgão de direitos humanos em prol da maior liberdade em Cuba, o Brasil votará a favor.
ISTOÉ – E quanto às relações do Brasil com o Irã?
Serra – Eu dou ao governo o crédito da boa vontade que tiveram. Agora, eu não confiaria no parceiro. Eu não confiaria no Ahmadnejad. Convenhamos, um país que condena um jornalista a 16 anos e condena à forca manifestantes não é um país que respeita direitos humanos. Eu não acho que o Lula tenha simpatia pelo regime de lá. Mas deu um crédito de confiança que eu não teria dado.
ISTOÉ – Sua campanha vai abordar agora aspectos mais pessoais, falando sobre sua infância humilde. O sr. está decidido a mostrar uma outra face ao eleitor?
Serra – Eu nunca gostei muito de expor essas coisas assim. Acho que não tem muito a ver, sabe. Mas o pessoal acha importante e sei que isso acabou virando importante no Brasil. Eu disse que aprendi o que é a pobreza não estudando, não numa reunião política. Eu aprendi vivendo. Para mim, não é teoria quando falo de saúde, de deficiente físico, de andar em ônibus apertado, de pegar condução ruim.
ISTOÉ – E sua fama de mal-humorado? É só pela manhã?
Serra – Eu só sou mal-humorado quando durmo pouco.
ISTOÉ – Como são os seus vínculos com os netos?
Serra – São muito fortes. Eles são todos pequenos. O mais velho tem 7 anos, a menina, que é terrível, tem 3, e o outro está caminhando para 2.
ISTOÉ – O sr. viveu a experiência trágica de perder uma neta recém-nascida. Como isso pesa hoje na relação com os seus netos?
Serra – A relação já era forte com o irmão dela, o Antônio, que foi o primeiro filho. A Sofia, que morreu, foi a segunda. Isto aí não tem muito conserto, viu? Nem para os pais, nem para mim, nem para o irmão. Fica uma marca. Você pensa sempre... Essa história de que você vai esquecer e tal... Não há hipótese.
ISTOÉ – O sr. não acha que o país ideal, em termos de educação, é aquele em que seus netos poderiam estudar numa escola pública?
Serra – Eu acho. Na Mooca, onde eu morava, estudar em escola particular era mal considerado. Era para quem não ia bem na escola. “Fulano precisou ir para uma escola particular”, era um estigma. Acho que a situação de hoje é reversível, mas será demorado. Na minha época o Brasil tinha 50% de analfabetos. Houve uma correspondência entre a abertura do ensino e a deterioração. Hoje são máquinas gigantescas. O governo do Estado tem cinco milhões e tanto de alunos, cinco mil escolas. Tudo centralizado. A prefeitura aqui tem um milhão de alunos. A estratégia para mudar deve estar na valorização da sala de aula. Como prefeito e governador eu dava aulas de verdade na quarta série. Era muito divertido. Aí vi com muita clareza qual é o problema. Em geral, as escolas são boas. Essa história de que as construções são ruins é conversa. O problema é que não se aprende na sala de aula. Na quarta série o sujeito não sabe tabuada. Eu aprendi na pré-escola. Não sabem mais ler em voz alta. Vi que não tinham currículo, guia para professor. Isto tudo virou ideologia: ah, compromete a liberdade do ensino... Como assim? Tem que ter um guia, um programa mínimo. E o aluno precisa de material para estudar. Ele vai embora e não tem onde ler aquilo que foi ensinado.
ISTOÉ – O sr. é favorável ao sistema de cotas para negros?
Serra – Sou a favor de políticas afirmativas diversas, como a Unicamp fez. É um bom esquema que leva em conta escola pública, cor e conhecimentos.
ISTOÉ – Por cor apenas, não é a favor?
Serra – Eu acho que a gente tem que fazer um balanço das diferentes experiências. Mas, em geral, sou a favor das ações afirmativas.
ISTOÉ – O sr. apoiou ou não a revisão da Lei de Anistia?
Serra – Acho que a gente tem que saber a verdade. Mas, do ponto de vista jurídico, não teria andamento. O Judiciário não faz coisas retroativas.
ISTOÉ – O sr. pediu indenização por seu período no exílio?
Serra – Não. Eu mandei uma carta tratando de tempo de trabalho, porque efetivamente trabalhei 11 dos meus 14 anos no Exterior. E nessa carta eu renunciei explicitamente a qualquer ajuda financeira.
ISTOÉ – O sr. acha que houve abusos nas indenizações da chamada bolsa-ditadura?
Serra – Há abuso, claro. Tem gente que ajudei a obter, dando meu testemunho. Mas tem gente que acho um absurdo completo receber. Essa do Glauber, por exemplo. Se é compensação financeira, supõe-se que você deixou de ganhar, ou virou abuso.
ISTOÉ – Dizem que o sr. sempre se preparou para ser presidente. Quando este desejo realmente apareceu?
Serra – Aí é muito folclore. É que uma tia e algumas senhoras que foram amigas da minha mãe, que teria agora 94 anos, diziam que “o Zezinho (nome pelo qual me chamavam), quando tinha 5 anos, já dizia que queria ser presidente”...
ISTOÉ – É verdade?
Serra – Não sei, não me lembro.Tem uma tia que falava em 10 anos. Mas é verdade que eu discutia política com adultos, quando tinha 8, 10 anos. Não tenho a menor ideia do que eu devia dizer...
ISTOÉ – Nessa época, o sr. pensava em grandes estadistas, certamente. Quem eram?
Serra – Churchill e Roosevelt, até hoje.
ISTOÉ – Ninguém pela esquerda?
Serra – Eu tinha pelo Fidel, mas aí quando já era estudante. Ele me desiludiu. Conheci o Fidel, estive com ele uma noite conversando e não vi motivos para ficar entusiasmado.
ISTOÉ – E no Brasil, alguma referência?
Serra – Juscelino, sem dúvida. Eu tinha alguma admiração por ele.
ISTOÉ – E Getúlio Vargas?
Serra – Sobre Getúlio eu tinha ideias contraditórias. É que na Mooca havia muitos comunistas. E desde criancinha eu vi gente sendo perseguida. Meu bairro era um reduto de comunistas e sindicalistas que, na época do Estado Novo, sofreram muito. Isto sempre me deixou com um pé atrás com Getúlio.
ISTOÉ – E o Jango, com quem o sr. se reuniu quando era presidente da UNE?
Serra – Eu cometi erros eleitorais. O primeiro foi ter votado no Jânio, em 60, na minha primeira eleição. Votei nele embora fosse simpático ao Lott. Foi um voto errado. O Jango, que conheci, era um boa-praça, um bom coração. Mas acho que ele não estava bem preparado para a complexidade que o Brasil já era. Pegou um rabo-de-foguete.
ISTOÉ – Em relação ao governo Lula, o sr. está à esquerda ou à direita?
Serra – Do ponto de vista da análise convencional, eu estou à esquerda. Só que eu acho que esta análise hoje é muito pobre. Hoje você pega pessoas que se dizem de esquerda e são, na verdade, reacionárias, defendendo interesses estritos de uma corporação. Esquerda, tal como existia, não existe mais, praticamente desapareceu. Este debate, então, fica uma espécie de ficção.